29
- agosto
2019
Vencendo a síndrome do Imperador

Pais empoderados educam melhor e todos ganham.

Nos consultórios psicológicos temos observado um aumento assustador de casos de ansiedade, desmotivação e depressão entre crianças e adolescentes. Muitos têm sido criados como príncipes/princesas e na hora em que enfrentam desafios, dificuldades ou frustrações adotam a postura de pequenos imperadores como se o mundo lhes devesse algo.

Em uma fase na qual poderiam estar sonhando, se divertindo e aprendendo, muitas crianças e adolescentes se encontram sofrendo emocional e até fisicamente, culminando em quadros que vão da apatia ao desinteresse escolar, da automutilação às tentativas de suicídio, num grau mais elevado.

É do interesse das escolas promover reflexões relativas a esta temática, do empoderamento dos pais, pois na medida em que os filhos são criados de forma superprotegida tendem a esperar que os outros façam as coisas por eles, o que vai completamente na contramão daquilo que a nova BNCC propõe acertadamente: a necessidade de uma formação integral e integrada de nossos conhecimentos cognitivos e relativos ao caráter. Esta temática foi exaustivamente apresentada e debatida no último Congresso Bett Educar, voltado para profissionais de educação. E acertadamente. Na medida em que se escasseiam os empregos, que o poder público já não nos oferece uma base de segurança em quase nenhuma área de nossas vidas, em que a Inteligência Artificial está cada vez mais presente no universo profissional, aumentando a competitividade, aqueles que não tiverem suas competências tanto cognitivas como socioemocionais bem desenvolvidas podem encontrar muito mais dificuldade de prosperar.

Todo pai, toda mãe deseja fazer seu filho feliz, mas hoje em dia isso tem sido confundido com a oferta incessante de presentes, regalias e privilégios. Estudos demonstram que a felicidade está mais associada a relações afetivas saudáveis e ao estímulo do desenvolvimento de virtudes (forças morais) que edificam nossa existência.

Mas não é apenas por meio de aulas sistemáticas que se faz este processo de formação humana. Sem respostas prontas, nem pílulas mágicas, mas oferecendo caminhos para que os pais se empoderem de seu papel, retomem a clareza de seus valores e assumam o comando do padrão educacional e moral de seu lar, a escola pode oferecer um espaço de troca de aflições e soluções, debater casos reais de famílias que têm encontrado meios de fortalecer a saúde, reforçar a importância de uma educação assentada em valores e virtudes junto aos filhos. Tudo isso fortalece o poder de formação exercido em sala de aula, até mesmo porque para uma educação ser integral e integrada é preciso que todos os agentes envolvidos se envolvam.

A coerência entre os pais, a aliança casa-escola e o autoconhecimento são alguns dos elementos a serem debatidos com vistas a uma vida saudável, digna e realizada. Se os pais forem percebidos pela escola também como agentes ativos, e não como um problema, como pessoas em desenvolvimento e não como um obstáculo do processo, se as famílias forem percebidas e tratadas como aliadas essenciais, poderemos ter sim uma chance de oferecer às crianças e adolescentes um contexto efetivamente humano, humanizado e motivador para que cresçam e se tornem a melhor versão de si mesmos, buscando assim, não um projeto de vida calcado na vaidade ou no narcisismo, e sim no desejo e no compromisso de serem os melhores para o mundo.

Fonte: Direcional Escolas


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